O isolamento social e a pandemia da saudade
Saudade: "sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas".
O isolamento social causado pela pandemia do Coronavírus nos trouxe muito mais do que sintomas de perda e de insegurança. A saudade é um sentimento poderoso e que bate de frente com o atual momento em que estamos - a obrigação de ficar em casa. A sobrecarga da obrigação leva à solidão e a um vazio interior, antes e por muitos, desconhecido. A solidão é sim perigosa, principalmente quando se transforma em reclusão, mas atualmente também é um dos nossos únicos meios de cura.
Nessa pandemia só temos uma escolha - vencer. Em países como a Itália onde o vírus fez mais de 100 mil vítimas até hoje, o isolamento virou a única forma de esperança do povo. O sistema de saúde precisou morrer e ser resgatado, mas a chegada da quarentena nunca foi mais certa. Foram fechados comércios e empresas no mundo todo e o drama do Covid-19 de repente se transformou numa guerra entre sobreviver ao vírus e se entregar às dívidas e à fome. Nem todos podem parar, nem todos tem recursos para sobreviver. Mas ainda assim a solução mais segura é ficar em casa. Com ajudas e benefícios a população tenta encontrar, com união, um jeito de manter a quarentena e atrasar a evolução do vírus.
É aí que um perigo oculto entra em cena. Com pouco tempo nosso corpo começa a mostrar sinais de esgotamento, de inquietação e de estres. O isolamento social te faz pensar que sim, você está enlouquecendo. Os dias começam a passar devagar e mesmo ocupando a cabeça, não há nada suficiente que tire o tédio e o forte sentimento de inutilidade. Você quer sair, se libertar, voltar a viver. Você quer estar com as pessoas que te fazem bem e quer, ainda mais do que antes, valorizá-las. Mas mesmo com esses sentimentos te consumindo, é preciso acreditar que isso vai passar, que você vai superar qualquer que seja os obstáculos e que, se seguir o que é pedido, em alguns meses o isolamento será apenas uma lembrança distante de uma época difícil. Você pode, você consegue, você precisa.
Procure um livro novo e mesmo se não tiver o hábito, porque não experimentar? Dizem por aí que ler é o melhor remédio. E se, ainda assim, as coisas continuarem difíceis, tente os exercícios para o corpo e para a mente. Não é porque estamos em casa que não possamos nos exercitar. Sinta o sol... Vá até a janela e deixe que ele queime o seu rosto por alguns segundos. Sinta a brisa do dia, o calor e até o clima da rua, mesmo estando do lado de dentro. Afaste a solidão do jeito que for melhor para você, mas respeite o tempo de cura. Mantenha o diálogo com a família, com os amigos e com as pessoas mais próximas, pois ninguém precisa passar por nada sozinho.
A questão na verdade é, você não está sozinho. Não desligue as engrenagens do seu cérebro e nem as cordas do seu coração... Não desista. Confie na sua força, no seu potencial. Confie no direito e na sua capacidade de ter amor, de respeitar o que o destino tem para você. É uma fase ruim, mas vai passar. Você é forte.
Pense nesse isolamento como um momento de auto crescimento, de conhecimento próprio. Evolua espiritualmente e descubra coisas que estão fora do lugar, que não pertencem mais a você. Encare como um momento de desafios, pois seu futuro depende deles e da suas atitudes daqui para frente. Entenda a solidão, converse, desabafe, sinta. Se for preciso, procure um especialista. Ligue para alguém que faça falta e coloque os assuntos em dia. Entenda a saudade e não finja que ela não está lá, pois ela dói ainda mais quando a ignoramos. Não esqueça dos ensinamentos que um dia recebeu dos seus pais, dos seus avós, de quem te criou. Tenha, acima de tudo, paciência.
Que esse momento de quarentena seja na verdade um momento de ensinamento. Que um fio de esperança caia sobre aqueles que ainda têm dúvidas, que se sentem perdidos ou que estão prestes a desistir. E que sejamos mais do que nunca unidos, ironicamente, pelo afastamento. Que sejamos mais do que nunca presentes na vida uns dos outros. E que um dia, finalmente, a saudade se transforme em reencontros.
Fique em casa.
Por Isabella Procópio Ribeiro, 08/04/2020
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